"Havemos de resistir"

As conversas são como as cerejas. Mais ainda, à mesa. Entre amigos. A <strong>Notícias TV</strong> juntou Herman José, Bárbara Guimarães e Teresa Guilherme, rostos com quem os portugueses vão entrar em 2012, na RTP1, SIC e TVI. Uma conversa longa, saborosa, intensa. E sem filtros. De medos e prazeres. De sonho e de realidade. De amores e ódios de estimação. Atenção, leitor, isto não foi uma entrevista. Foi apenas um brinde. À amizade, ao trabalho, ao talento e à capacidade de vencer na vida.
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2011 deixa-vos saudades?

Teresa Guilherme (TG) - Eu acho que todos os anos têm os seus ensinamentos e este também. Como sabem, eu não conto o ano da mesma forma que vocês. Eu conto-o astrologicamente, não há ano civil. Os anos contam porque uma pessoa faz anos. O ano para mim começa em Junho.

Bárbara Guimarães (BG) - Somos todos diferentes. Para mim, o que marca é o Setembro.

Herman José (HJ) - Eu é que sou diferente. Para mim cada ano é um número. E cada ano é uma cápsula que está dentro de mim. Eu sei o que cada número significa. 1978, 1998... eu sei tudo o que lá se passou.

TG - Ai, eu não faço a mínima ideia do que me aconteceu em 1984 [risos]. Quando as pessoas me perguntam há quantos anos é que se passou tal coisa, eu tenho sempre de ir pensar para me tentar situar. Mesmo os anos de carreira, eu não sou nada de fixar. Sei que já fiz 21 ou 22, mas nem sei bem.

Mas este ano de 2011, contado da forma como o quiserem, não trouxe nada de especial para vocês? É que para os portugueses trouxe...

TG - Todos os anos são muito importantes. O que este ano nos trouxe foi algo completamente novo, que é a mudança de todas as premissas e de todas as bases. Tem que ver com a economia e com o mundo. Todas as coisas passaram a ter um significado diferente para nós. Pouco a pouco temos vindo a cair na real. De facto, temos coisas a mais, temos coisas que não nos fazem falta. Há muita gente desempregada à nossa volta, há muita gente a passar mal. E é importante dar valor ao que temos e ao que conseguimos conquistar.

Este ano foi um murro no estômago dos portugueses, é isso?

BG - Acho que vai ser o próximo [risos]. Em 2012 é que vamos ver o novo paradigma a funcionar. Até agora foi apenas a ameaça, o medo a instalar-se. Já começou, mas em 2012 é que vamos sentir na pele o que aí vem. Porque o que aí vem vai ser duro.

HJ - Menos em Macau [risos].

TG - Sim, em Macau, no Oriente em geral e, seguramente, em alguns paraísos fiscais.

Herman, é agora que cumpre o sonho de fazer uma carreira lá fora? Até aproveitando o conselho que o primeiro-ninistro deu aos professores para emigrarem?

HJ - De maneira nenhuma.

TG - Ele disse isso? [risos] Acho extraordinário. Tenho estado tão empenhada nisto [Casa dos Segredos], que nem dei por esse conselho [gargalhada].

HJ - Ao contrário dos presentes, tive o meu tsunami em 2004. Aconteceu-me de tudo ao mesmo tempo. Há pouco, ainda antes deste almoço, falávamos da diferença entre a ficção e a realidade. A realidade é completamente desequilibrada. Na ficção, as minhas desgraças aconteciam ao longo da vida. Na realidade o que aconteceu foi uma vida só com vitórias e sucessos durante grande parte da vida, e em 2004 aconteceram as desgraças todas. Sou acusado de um processo horrível, sem saber como, perco o meu empregador, sou desfalcado em 1,2 milhões de euros, que é uma verba completamente internacional...

TG - É sim senhor, e fica-te bem. Isso dá currículo [risos]...

HJ - Fica-me bem sobretudo porque as pessoas acharam que eu tinha para desfalcar. E foram desfalcados ao Estado, porque eram desfalcados por facturas falsas. Eu é que tive de repor. Portanto, aconteceu-me de tudo. Isto para vos dizer que o meu optimismo actual, que tem que ver com a reconstrução da minha vida, que começou em 2009, 2010, é tão grande que dificilmente tenho distância para fazer o luto pela situação do mundo neste momento. Estou a ser completamente sincero.

BG - E sentes que tens de te justificar?

HJ - Não é bem justificar, mas neste momento as coisas estão a correr de tal maneira bem, neste meu reencontro com o público, que não tenho a sensação que a crise se instalou. Pelo contrário, a minha crise terminou há dois anos. Voltei para o canal onde queria estar e de onde não devia ter saído, voltei a fazer espectáculos pelo mundo inteiro.

Mas sabe que a crise está aí, que faz parte de uma ínfima parte que não a sente...

HJ - Sim, claro. A conjuntura é o que é, mas como eu não a sinto, não me dá aquela sensação de pânico que era suposto. Quando me dizem que 2012 vai ser um ano terrível, tenho de fazer um grande esforço para concordar com as pessoas. Porque o meu não vai ser. E isto não é ser optimista, é apenas o resultado da reconstrução da minha vida, depois de uma época absolutamente dramática.

[Silêncio. Ouve-se apenas os talheres...]

TG - Este creme de castanhas é absolutamente divinal...

HJ - Maravilhoso [pausa]. Vou dar-vos um exemplo: peguem num alemão e transportem-no para 1952, que foi um mau ano, e perguntem-lhe como é que ele se sente. Ele sente-se lindamente. Acabou de sair da II Guerra Mundial e, por muita crise que haja nos anos 50, ele está radiante. A Alemanha está a ser reconstruída, já há estradas na terra dele...

TG - Pois, mas o pior é que agora é que vai começar a guerra.

HJ - Não, a minha já foi. A minha guerra foi em 2004, percebes?

TG - Acho que a tua guerra particular é que já foi. A mundial é mundial [risos]. Mas havemos de resistir.

HJ - O meu mundo teve uma guerra atómica em 2004. E por mais profundo que seja o impacto desta guerra que aí vem, jamais será tão devastador como foi a minha guerra de 2004.

TG - Imagina que desaparece o euro...

HJ - É-me completamente indiferente.

Ou a RTP...

HJ - [gargalhadas] Se eu vos mostrasse a minha lista de idas para 2012, vocês perceberiam até que ponto é indiferente.

BG - Mas vives bem sem televisão. Desculpa, Nuno, estar a fazer perguntas [risos]...

À vontade...

HJ - Vivo completamente bem sem televisão.

BG - Não é importante para ti fazer televisão?

HJ - É importantíssimo, adoro fazer televisão. Sinto-me muito bem na RTP. Se não tivesse contrato, neste momento pagava para fazer televisão. Não posso é dizer isto aos meus empregadores, porque eles ainda me fazem um desconto...

TG - O pior é que acho que eles vão fazer à mesma [gargalhada]...

HJ - Eu voltei ao paradigma dos anos 80, quando tu me conheceste, Teresa, em que eu quase pagava para fazer televisão, em que ganhava o suficiente para pagar aos tipos que iam comigo para a estrada. A televisão é um investimento.

Mas a sua principal fonte de receitas já não é a televisão?

HJ - De maneira nenhuma. Os espectáculos são a minha principal fonte de receita. Eu não posso fazer um programa em directo ao sábado porque não posso dar-me ao luxo de perder os espectáculos de sábado à noite.

BG - Mas eu não estava a falar de dinheiro. Estava a falar de felicidade. Vivias bem sem televisão?

HJ - Ah, não, definhava de tristeza. Se a RTP fechasse, ficaria tristíssimo.

E consigo, Bárbara? Também definhava de tristeza sem televisão?

BG - Também. Este 2011 foi um ano imenso. Trabalhei e trabalhei muito. E estou contente por ter trabalhado e de ter projectos em que me senti bem, em que fui e sou feliz."

HJ - E ninguém te pode acusar de seres um elefante branco na SIC, ou seja, o teu valor real foi muito bem utilizado nos projectos em que estiveste. Foste útil.

BG - O meu processo não é linear. Eu tenho feito um caminho.

TG - Sim, mas este ano foi muito importante para ti, já to disse.

Fizeste uma reviravolta, cresceste muito como apresentadora.

BG - Porque gosto de me pôr à prova. Quando foi o Portugal Tem Talento, houve quem achasse que eu me ia meter num buraco. Na fase das audições eu era a porteira de palco. Estava junto das famílias, a vibrar com elas. Era ali que me sentia bem. O formato original não é assim. Mas eu não arredei pé, era ali que queria estar.

HJ - Eu vou cometer uma inconfidência sobre ti.

BG - Ai meu Deus [gargalhadas].

HJ - Há uns anos, virei-me para a Bárbara e disse-lhe: "Tens de te descontrair. Tu és tão gira, deita fora os teus filtros, que não precisas deles."

TG - Mas isso tem que ver com a maturidade.

HJ - Pois tem, mas o que eu sinto é que a Bárbara deitou fora os filtros.

TG - E isso é mérito total dela, ela deixou de estar rígida nos formatos. Isso consegue-se à custa de muito trabalho, mas também da experiência, da maturidade. Ela teve a coragem de arriscar, de mexer com aquela imagem que ela tinha da linda que estava ali numa gala. Portanto, a mim, que te conheço há muitos anos, não me surpreendeu nada o teu bom relacionamento com os concorrentes no Portugal Tem Talento e agora com os gordinhos. Porque sei que tu és muito carinhosa.

HJ - Mas as pessoas não sabiam. A imagem dela era de uma pessoa muito rígida.

Sim, a Bárbara tinha uma imagem mais... como hei-de dizer isto sem ferir...

BG - Diz da forma que já o escreveste...

Pois, exacto, já o escrevi. A Bárbara tinha uma imagem mais plástica. E agora, neste último ano, revelou-se mais próxima dos espectadores e dos concorrentes. Muito mais afectiva...

TG - Mas ela já era afectiva. Sempre foi. O que acontece é que agora ela mostrou essa afectividade.

BG - É como eu vos dizia: isto é um processo. Eu comecei na televisão com 20 e poucos anos, já tenho 38, portanto... Se nós não tivermos a capacidade de nos relativizar e de nos reinventar, estamos mal.

A Bárbara não se leva muito a sério?

BG - [pausa] Eu relativizo-me.

TG - Eu levo o meu trabalho a sério, mas não me levo muito a sério.

Mas o Herman leva-se a sério...

HJ - Levo-me imenso a sério, é verdade.

Era uma provocação [risos]...

HJ - Eu sei, eu sei. Mas levo-me muito a sério.

É uma marca dos humoristas, não é?

HJ - Sim, é, mas depois, quando toca a eles, não têm sentido de humor nenhum. Eu já percebi, por exemplo, que não podia andar armado. Eu tenho arma e adoro. Sinto-me um homem inteiro com arma. Mas percebi que a arma tinha de estar guardada em casa [risos].

Quando é que percebeu isso? Na última reunião com Luís Marques, quando saiu da SIC?

TG - [gargalhada] Ai meu Deus, o que aí vem...

HJ - O que aí vem? Nem sabes tu o que aí vem [risos]. A Júlia Pinheiro está a chegar...

TG - [gargalhada]

HJ - Mas eu nunca tive uma reunião com o Luís Marques.

TG - [nova gargalhada]

Não se esteja a rir, Teresa. Porque eu ia perguntar-lhe se não foi armada para a última reunião com o Luís Marques, quando saiu da SIC com estrondo. Aquelas reuniões para fazerem contas...

TG - [risos] Só me lembro de uma reunião...

Sim, porque vocês os dois têm essa coisa em comum...

BG - Esse amor de estimação [risos]

TG - O Luís Marques fez-me muito mal.

Mas fez-lhe muito mal porquê? Deixe-me lá fazer a pergunta: a Teresa não saiu com uma pipa de massa da SIC, quando vendeu a sua empresa?

TG - Tive de me bater muito com ele, porque ele não me tratou como eu merecia ser tratada. Tratou aquilo como uma guerra pessoal.

Mas foi o negócio da sua vida...

TG - [prontamente] Não.

A ideia de que saiu de Carnaxide multimilionária, à escala portuguesa, claro, não é verdadeira?

TG - Ganhei dinheiro, é verdade. Mas aquilo que eram duas empresas acabou por ser uma luta pessoal de um homem que não interessa a ninguém. Eu já o conheço há anos, desde os primeiros tempos da SIC e depois da RTP. Depois este homem torna-se poderoso e foi completamente mesquinho na forma como me tratou. Já com o Dr. Balsemão é diferente. Ele até pode pensar muito mal de mim, não faço ideia, mas a verdade é que sempre me tratou de uma forma muito civilizada.

Consigo, Herman, a história foi diferente.

HJ - Muito diferente. A nossa história é extraordinariamente minimalista.

BG - Não sei se já repararam, mas estão a falar do meu director-geral [risos].

HJ - A partir de certa altura, na SIC, passei a ser um elefante branco. Não estou a dizer isto com ironia. Isto é real. Custava fortunas e não tinha enquadramento. Por pudor, nem sequer falaram comigo. Deixaram-me, pura e simplesmente, cair.

Quando é que deixou de ser feliz na SIC?

HJ - O Rangel adorava-me. E o Manuel da Fonseca tinha por mim um encantamento total, que ainda mantém. Eu para o Manuel da Fonseca era uma espécie de Nossa Senhora de Fátima. Um príncipe. A partir do momento em que perdi o meu apoio total, começa com o meu querido Penim a dizer que queria acabar com o Senhora Dona Lady e, a partir daí, eu senti que não fazia parte daquela família.

TG - Mas o Penim adorava-te.

HJ - Mas isso não tem nada a ver. E eu dou-me muito bem com ele agora.

Mas quando o Penim entra como director de programas da SIC, no final de Setembro, sentiu que as coisas estavam a mudar?

HJ - Senti que já não fazia parte daquela família. Passei a ser mais um incómodo do que uma mais-valia.

Bárbara, faça favor de entrar na conversa. Não se acanhe, lá porque estamos a falar da sua entidade patronal...

BG - [risos] Eu ainda ontem me reuni com o Luís Marques. Liguei-lhe e ele atendeu-me.

TG - Mas a mim também me atende.

Mas ainda falam? Tanta coisa, tanta coisa, mas afinal ainda se falam...

TG - [gargalhada] Quando preciso de falar com ele, ligo-lhe. E ele atende-me.

BG - Bem, mas independentemente das vossas experiências e opiniões sobre determinadas pessoas, o que a gente tem é de olhar para o futuro. E o que eu quero é continuar a trabalhar em projectos que me dêem capacidade de crescimento. E este ano, neste particular, correu-nos muito bem aos três. Os três trabalhámos e trabalhámos bem em projectos que nos deram gozo.

TG - E ganhámos dinheiro. E isso é bom, sobretudo neste tempo de crise. Voltamos ao início da nossa conversa. Eu sinto-me agradecida. Hoje dou muito mais valor ao dinheiro.

BG - E se calhar contentamo-nos com menos. Aprendemos a dar valor a outras coisas.

Herman, isto é verdade? Ou não se comove com esta conversa da Teresa e da Bárbara?

HJ - [risos] Sim, é verdade, acho que sim.

Mesmo para si?

TG - [gargalhada] Mesmo para si... é óptimo.

HJ - Mesmo para mim, mesmo para mim.

TG - [gargalhada] Ele de repente ficou sério.

BG - "Mesmo para mim? O que é que ele quer dizer com isto?" [gargalhada] Muito bom...

HJ - Vocês são muito engraçados...

Tem saudades do barco e dos outros sinais exteriores de riqueza?

TG - [gargalhada] Ai, não posso!!!

HJ - Como imagina [ar sério, mas a tentar não rir], como imagina, não vou fazer aqui alarde de todos os extraordinários disparates que fiz no ano que agora chega ao fim. Extraordinários disparates.

TG - Olha os olhinhos a brilhar... [e coloca a mão esquerda sobre a mão direita de Herman]

HJ - Eu trabalho para fazer disparates, não tenho filhos nem responsabilidades. Portanto, se eu trabalho que nem um cão, é para depois ir para o Ritz Vendôme, para uma suite chamada Elton John. Não é para uma suite normal. Mas trabalho imenso para ir para lá. Aí não mudo um milímetro. O que eu mudei é que deixei de fazer algumas coisas impensáveis, completamente surrealistas. O barco que eu tinha era com certeza uma delas, não era um barco normal compatível com um artista normal de um país normal. Há outras coisas que eu mudei. Vou dar-vos um exemplo. Na minha casa de Azeitão, para onde vou muito menos do que gostava, todos os aquecedores ficavam ligados todo o Inverno [gargalhada]. E eu tinha contas de electricidade que eram muitos ordenados mínimos de portugueses.

TG - [gargalhada] Pois, é para essas coisas que eu acho que todos nós, os portugueses em geral, passámos a olhar com mais atenção.

HJ - Eu chegava a pagar dois mil euros de electricidade por mês.

Já que estamos a falar de crise, de dois mil euros de electricidade por mês, de suites fantásticas em Paris, deixem-me perguntar-vos se estão preparados para a redução de cachets e de ordenados. As televisões também estão a cortar...

TG - Eu não sou empregada de ninguém. Eu acabo o programa agora e fico sem nada. Faz parte da nossa vida: umas vezes estamos no ar, depois ficamos parados. Eu nunca fui empregada na vida. Já tu, Bárbara, tens um empregador.

BG - Eu tenho. A SIC é a minha entidade patronal.

HJ - Já eu tenho imensos patrões. Não sou empregado da RTP. As Produções Fictícias produzem o programa e eu recebo a minha parte. Mas devo dizer-lhe que neste momento o meu ordenado televisivo é a minha última preocupação. Como vos disse, neste momento pagava para fazer televisão.

BG - Oh, Herman, tu não te desgraces. Tu não digas uma coisa destas...

HJ - Digo, digo.

Olhe que o ministro Miguel Relvas ainda lê esta conversa...

TG - [gargalhada] - Senhor ministro, olhe que ele está a brincar, ele é humorista [e agarra no gravador]. Hu-mo-ris-ta.

BG - Estás cheio de humor. Toma lá um pimento padrón [Bárbara pediu como entrada pimentos padrón, mas acabou por ver o seu prato atacado por todos os comensais].

TG - Eu deixo o programa, mas não vou para o desemprego, porque tenho os próximos três meses carregadinhos de teatro, com uma digressão. Era para ter sido feita já, mas o Pedro Costa, que é o produtor, foi sensível aos meus apelos desesperados. Eu não conseguia fazer a peça durante a Casa dos Segredos.

Bárbara, o teatro a si não a fascina?

BG - Sou uma óptima espectadora de teatro. Como tenho uma vida com tantas voltas e reviravoltas, tudo pode acontecer, mas não sei.

Esta senhora começou tarde...

TG - É verdade, comecei bem tarde e adoro. Mas eu lembro-me de umas participações que fizeste na Floribella e que te correram bem.

BG - E na série Uma Aventura fiz de directora do Palácio da Pena [risos].

HJ - Ainda ontem estive a ver a Carla Bruni a fazer um papel no filme do Woody Allen, o Midnight em Paris.

Falemos do fim de ano. Teresa e Bárbara, vocês vão estar em directo. A Teresa no Campo Pequeno e a Bárbara na Venda do Pinheiro, nos estúdios onde a Teresa tem feito a Casa dos Segredos...

BG - [risos] Isso é bem giro. E sabes o que vai acontecer: a Cátia vence o teu programa e vai acabar por entrar no Peso Pesado.

TG - [gargalhada] Acho bem, porque ainda por cima ela está gordinha...

BG - Mas vocês estão cheios de dinheiro. Porque o Campo Pequeno é caríssimo.

TG - É um disparate. Eu acho que em Janeiro contrataram logo o Campo Pequeno. Por mim, nós não saíamos dali. É o meu lado Caranguejo a falar. Estamos ao lado da casa, era muito mais fácil.

BG - Por isso é que eu digo, a Cátia não vai encontrar o caminho e acabará por entrar no estúdio do Peso Pesado.

Já que vão trocar de estúdios, troquemos também de apresentadores. Bárbara, e se fosse apresentar a final de Casa dos Segredos?

BG - Não, não [risos]. Eu deixar os meus gordinhos entregues à Teresa? Como é que eu apresentava a Casa dos Segredos? Como? Eu não sou tão boa a inventar factos como a Teresa.

[Teresa Guilherme dá uma sonora argalhada]

BG - Isto é um elogio. A Teresa é perfeita para a Casa dos Segredos. Não podia ser outra. Ao longo destes últimos três meses, eu tenho ouvido o rebuliço que por aí vai. Mas o Peso Pesado faz-te alguma mossa...

TG - Acho, muito sinceramente, que o Peso Pesado correu muito bem. Os diários não, mas a gala ao domingo correu muito bem. E não estou a dizer isto por tu estares aqui, digo-o permanentemente lá na TVI. Sem a Casa dos Segredos, o PesoPesado tinha sido um êxito ainda mais arrebatador. E na Endemol têm a mesma ideia. O Peso Pesado resistiu muito bem e portou-se melhor do que seria de esperar. Faz resultados melhores do que a própria SIC e nos intervalos de Casa dos Segredos, as pessoas vão lá espreitar.

E a Teresa a apresentar o programa dos gordinhos?

TG - Adorava. Eu tenho esta tendência para engordar porque adoro comer. Portanto, adorava conhecer aquelas realidades.

BG - Mas eu também tenho tendência para engordar. Não és só tu e o Herman. Eu também...

[Herman e Teresa dão uma gargalhada conjunta]

Oh, Bárbara, não brinque com pessoas que sofrem...

[Gargalhada conjunta]

TG - Tens um corpo perfeito. Olha a rapidez com que tu ficaste em forma mesmo depois de teres os bebés.

BG - Mas dá muito trabalho. O que eu acho estranho é o Nuno não nos perguntar onde é que nós gostávamos de estar no fim de ano.

Mas pergunto, pergunto. Onde é que gostavam de estar no fim de ano?

TG - [risos] No Rio de Janeiro, que está sol e calor.

BG - Eu gostava de estar em Tróia, com o Herman [A emissão da RTP1 de fim de ano, com Herman José e o elenco do Estado de Graça, foi gravada. O humorista vai fazer um espectáculo no Casino de Tróia].

TG - Eu gostava de estar no Rio, porque assim não trabalhava.

HJ - Que engraçado, eu só sou feliz no fim de ano quando estou a trabalhar.

E o Herman vai seguindo as rotinas da Teresa e da Bárbara nos seus concursos?

HJ - Não tanto como antigamente, devo assumir. A minha vontade de acompanhar reality shows já não é a mesma que há dez anos. Gosto de ver pontualmente, coisas aqui e ali. Há umas personagens que tenho de ver por causa do trabalho. Gosto de ver aquela maluca, a Cátia, não é?

BG - Mas os conteúdos da Teresa, em termos de humor, são mais interessantes para ti, não são?

HJ - Sim, são. Mas perdi um bocado a paciência para esse tipo de programas. Há coisas em que sou viciado. O meu fascínio por essas pimbalhices é hoje menor. Hoje, não seria feliz a apresentar nem um concurso nem outro. Não tinha convicção.

BG - Então não contes connosco para te ajudar a fazer sketches [risos].

TG - Eu não tenho jeito nenhum. Nem para contar anedotas. Tu, há bocadinho, dizias que até pagavas para fazer televisão. E se agora não tivesses o teu programa de conversas e te pedissem para fazer aquilo de que tu andas a fugir há anos: um programa só de sketches?

HJ - Noutro dia fiz 14 minutos só de ficção humorística sobre o fado. Uma coisa que me deu um trabalhão monstruoso. Mas acho que o Herman 2011 é muito mais enriquecedor. Tem sketches, mas posso lá ter um escritor, os Il Divo, uma velha glória do cinema...

Já lá teve o ministro Miguel Relvas?

TG - [gargalhadas] E tu a dares-lhe...

HJ - Não tive, mas já esteve tudo marcado, mas depois ele foi nessa semana ao Nicolau e nós achámos que era Relvas a mais.

Eu não tenho qualquer fetiche com o ministro Relvas. É só porque nas últimas semanas ligo a televisão e encontro sempre o ministro Relvas em todos os canais...

HJ - [gargalhada] É verdade. A coisa é de tal maneira assim, que eu vou fazer dele agora no programa de fim de ano. Como ele sabe tudo, vão pedir-he conselhos de culinária, de geografia. Vai ser tudo em conferência de imprensa.

E não se vai encontrar com o ministro Vítor Gaspar encarnado pelo Manuel Marques?

HJ - Não, mas ele faz brilhantemente. Aliás, o Manuel Marques faz brilhantemente tudo.

TG - É verdade, o Estado de Graça é óptimo.

O Manuel Marques é o último dos seus "filhos" a florescer...

HJ - Com uma única diferença. É que o Manuel Marques é infinitamente grato. Ao contrário de outros.

BG - Vá lá Herman, isto é um almoço de festa. Ai, este homem...

HJ - Há uns que nem se lembram como é que eu me chamo [gargalhadas]. O Manuel é um tipo de grande carácter. E eu gosto muito disso nele.

Portanto, se o Herman tivesse o seu próprio canal, o Manuel Marques tinha emprego...

HJ - Ah, claro que sim.

BG - E se nós tivéssemos, cada um, o seu próprio canal? Já pensaram nisso?

TG - Eu gostava. E vou ter. A programação do meu canal teria tudo aquilo que eu acho que as pessoas deviam saber. Olha, teria conselhos para não desperdiçar dinheiro em aquecimentos em Azeitão. Informar as pessoas sobre o que se passa no mundo e sobre aquilo que elas podem ter de graça ou a custo reduzido. Coisas do além, claro que também teria. Na verdade, o meu próprio canal seria um pouco do que eu fiz no Eterno Feminino. Mas em grande.

BG - E não terias um programa para falar com os mortos, tipo Anne Germain?

TG - [pausa] ...

Boa dica, Bárbara. Já agora, acredita naquele programa? O que é que acha da Anne Germain [medium que diz falar com os mortos no programa Depois da Vida, na TVI]?

TG - [engole em seco]...

(risos) Até o atum custou a descer [Teresa Guilherme pediu naco de atum marinado em poejo]...

TG - [risos] Não, não. Apanhaste-me com o atum na boca. A Anne Germain? Não sei. Uma vez pedi para me encontrar com ela e ela não quis. Não sei porquê.

BG - Eh lá, eh lá!

E o seu canal, Herman?

HJ - Seria um canal dedicado ao luxo. Tout court. Charutos, vinhos, relógios, restaurantes. O meu canal seria para partilhar com as pessoas tudo o que há de fascinante por esse mundo fora. Mas realidades tão fora que nem sequer seja um desconforto não as ter. A maior transacção imobiliária individual na história dos Estados Unidos foi um apartamento no Central Park, n.º 15, 7.º andar, que foi vendido por 88 milhões de dólares, 70 milhões de euros. É tão interessante falar da vida daquela gente que dava para um canal. Eu abria o canal a especialistas.

TG - Portanto, o Herman fazia um canal sobre o sonho, eu um canal prático, para o dia-a-dia.

BG - Eu fazia um canal-teste, em que nós ensaiássemos formatos e que déssemos às pessoas o que realmente elas querem ver. Sem a pressão das audiências. Mas o teu canal sobre os prazeres também seria interessante, Herman. Olha, uma pessoa de quem eu gostava muito, e que tu também conhecias, era o Alfredo Saramago, o epicurista.

HJ - Mas eu não acompanhava muito as coisas que ele dizia. Eu estou noutro campeonato [risos]. Ele via a vida a partir de Portugal e eu vejo-a a partir do Palácio de Versalhes.

BG - Estamos entendidos [risos].

HJ - Peço desculpa por ser tão arrogante, mas eu sou assim. É como o livro do Sousa Tavares, que fala da perdiz... que se tempera com sal. Mesmo à portuguesa. Fica ali, tipo caldeirada, não é preciso mais nada. Não, falta tudo. Falta mariná-la, falta desossá-la, falta ir à procura dos cogumelos certos para fazer o recheio, falta tirar os fígados para os cozer ao vapor. É como a história das viagens. As pessoas dizem: "Ai, o hotel é indiferente, o que interessa é mudar de ares, é ver coisas novas." Mentira. Men-ti-ra. Um bom hotel é imprescindível.

TG - Concordo absolutamente.

BG - Mas isso também tem que ver com o nível de rendimentos das pessoas.

HJ - Não, não tem. Sabes porquê? Quando eu era puto, tinha o mesmo dinheiro que os meus colegas. Eles iam 15 dias para o parque de campismo de Lagos e eu, com o mesmo dinheiro, ia três dias para o Hotel da Balaia. Preferia três dias de sonho a fingir que era rico do que 15 estimulantes dias em parque de campismo.

Acampou alguma vez?

HJ - Só quando era escoteiro e era só para mandar. Entrei directamente para chefe porque Herman José é o nome do santo padroeiro dos castos. E o padre da Escola Alemã, ao saber que eu era Herman José, achou que era um sinal divino [risos].

E a castidade assenta-lhe bem?

BG - [gargalhada]

HJ - Mas ainda hoje sou muito pouco rotativo, devo dizer-vos. Sou de paixões que duram anos.

TG - É verdade, eu subscrevo isso.

A Teresa é mais salta-pocinhas...

TG - [risos] Agora já não. Não é por uma questão de idade. Já não tenho é paciência para falar da minha vida privada. O que eu acho extraordinário não é as pessoas terem curiosidade sobre o meu trabalho, é terem curiosidade sobre a minha vida privada. Se eu namoro, se não namoro. Tenho 56 anos, o que é que isso interessa? E nestes 20 anos aprendi a guardar o que é privado, privado, privado.

HJ - E fazes muito bem.

BG - Eu, apesar de tudo, também vou guardando [risos]. Um casamento longo, dois filhos, enfim... Mas, noutro dia, pensei fazer uma exposição à porta da minha casa, com todos os paparazzi que já me fizeram. Foram todos à porta da minha casa. Grávida, com um filho, a sair de casa, a chegar a casa, a passear o primeiro filho, grávida de novo, a passear o segundo filho [risos]. Mas é sempre à porta de casa. Com os sacos do supermercado, com os filhos no ovo, o meu marido ao meu lado. Enfim, a minha vida privada conta-se numa exposição dos últimos dez anos de paparazzi à porta de casa [gargalhada].

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